Ataque à mata amazônica aumentou no rastro das mudanças no Código Florestal
Cleide Carvalho, enviada especial
RIO - A discussão do Código Florestal escancarou as portas da Floresta Amazônica para a devastação. Desde janeiro passado, grandes fazendeiros ou especuladores de terras passaram a derrubar florestas na expectativa de criar um fato consumado para se beneficiar de anistia a devastadores na Amazônia Legal ou, simplesmente, pelo medo de que as restrições pudessem ser aumentadas após a aprovação da nova legislação ambiental. Em Mato Grosso, estado que concentra a segunda maior produção de grãos do país, o efeito foi devastador, principalmente depois que o governador Silval Barbosa (PMDB), aliado da presidente Dilma Rousseff, sancionou lei concedendo anistia aos produtores até abril, véspera da aprovação do novo Código, que, pela proposta da Câmara, prevê anistia a quem desmatou até 2008.
Os satélites do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) registraram a derrubada de 480 quilômetros quadrados de florestas no estado, boa parte com o uso do impiedoso correntão. Esticada entre dois tratores, uma enorme corrente derruba as árvores pela raiz, ceifando todo tipo de vida pelo caminho. Ao final, as árvores são amontoadas. As toras são vendidas, e o resto é queimado.
Mas o desmatamento não é só com o correntão. Antes dele, passam os mateiros. Às 13h da última quinta-feira, O GLOBO estava diante deles. Seis homens, uns mais velhos e outros quase meninos, preparavam o trator para içar toras e encher um caminhão. Nem de longe pensavam que estavam fazendo algum mal. Cortar a árvore é um trabalho, e cortar a floresta por baixo é o que mais ocorre em Mato Grosso.
Eles trabalham para os madeireiros e odeiam correntões, como os usados na fazenda Santa Catarina, do paranaense Valdemiso Badalotti, e outras cinco. O motivo é simples: chamam a atenção dos fiscais do Ibama. Os mateiros trabalham discretamente, por baixo das copas das árvores, e só são localizados se a equipe de fiscalização voar baixo de helicóptero ou se for feita denúncia, o que é raro. Se por acaso forem flagrados, são presos e soltos.
Para derrubar, não há muito preparativo. O mateiro sabe para que lado o tronco vai cair e manda: "Fica do lado de lá". O barulho da motosserra não é nada. Dura uns dois, três minutos. Duro mesmo é ouvir o baque da árvore que cai sobre os galhos de outras.
Na venda, uma árvore como a iotaúba, escassa em algumas áreas, mas ainda presente nas mais afastadas das cidades, chega a R$ 250. Um madeireiro ouvido pelo GLOBO afirma:
- A árvore vai crescer de novo. Em cinco anos tem outra aí.
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